segunda-feira, dezembro 08, 2008

Um teto sobre nossas cabeças

Achamos um apartamento! Finalmente! Essa brincadeira de procurar já estava me cansando. Vimos muita coisa horrorível. Muita coisa cara. Muita coisa velha e malcuidada.

Aí, numa segunda-feira, eu fui ver uma promessa de coisa legal. Quando cheguei à imobiliária, descobri que não era no prédio que eu pensava que era. Decepçãozinha. Mas o moço disse que eu devia ir lá olhar, que eu ia gostar. Fui, assim, meio desanimada. A vizinhaça não é assim uma fotografia de filme de arte, mas dá para abstrair.

E eu vinha pensando "cozinha e banheiro, cozinha e banheiro" porque tenho pavor a cozinha e banheiro velhos e sujos. Não tenho a mesma capacidade que o Ri de enxergar o potencial. Em alguns apartamentos que fomos ver, fiquei grudada na sala, abismada com a capacidade humana de viver em semelhante local.

Abri a porta... e vi o cafofinho mais lindo de Brasília. Pequenino, novinho, lindo, lindo! Liguei para o Ri tremendo de alegria e disse: "Achamos!". Uma sala clara, um banheiro novinho, uma cozinha iluminada, com área de serviço e um quarto enorme. Era isso. É ali que eu quero começar a viver com o meu amor.

Hoje, milhares de papéis e firmas reconhecidas depois, ele é "nosso". Vamos morar ali pelo menos por um ano, até comprarmos o nosso de verdade.

Nossa casa.

terça-feira, dezembro 02, 2008

O Livro do Amor – Parte 1

The book of love is long and boring
No one can lift the damn thing
It's full of charts and facts and figures
And instructions for dancing
(The book of love - Peter Gabriel)


O portão da casa dos pais do Ri é fechado com uma daquelas placas de metal. Por isso, sempre que eu ia buscá-lo, a primeira visão que tinha dele era das mãos. E essa lembrança sempre me emociona. Eu via aqueles dedos longos e brancos mexendo no cadeado, e meu coração dava um suspiro.

É assim o Ri, meu marido. Ele me emociona de todas as maneiras possíveis.

– Você me ama?

– Ué, e você não sabe?

– Eu sei, mas gosto de ouvir a resposta...

O que é, o que é?


E quando a gente tem uma opinião diametralmente oposta à de todos ao redor e fica calada? Isso a gente chama de quê? É esperteza ou fraqueza?
Eu, hein!


quinta-feira, outubro 23, 2008

Dá pra voltar?

Se eu tivesse sido uma criança inteligente, orgulho de papai e mamãe, e não aquela moleca que ficava rolando morros de brita abaixo, responderia assim quando me perguntassem o que eu queria ser quando crescer:

– Uma pessoa que faz planilhas...

Vejam bem, não que eu quisesse ser uma contadora, uma matemática, que a minha intimidade com os números só é suficiente para eu afirmar que sou um zero à esquerda em questão de números e cálculos.

Eu queria era fazer aquelas planilhas de controle de gastos. Acho liiiiindo quando passa o Globo Repórter mostrando aquele povo bem ferrado na vida que recebeu a visita daquele simpático economista com uma HP12c nas mãos e viu a luz!!!! Aleluia, irmãos! Tudo muda depois da tal da planilha. Acho um tudo.

Não estou sendo irônica. Tenho admiração por quem consegue um controle tão absoluto sobre a sua vida a ponto de saber para onde foram aqueles 20 centavos que foram dados de troco na padaria. No meu mundo, eles normalmente vão se juntar às chaves e aos documentos importantes, em uma comunidade quilombola isolada do contato humano.

Queria que a minha vida coubesse em uma planilha. Se bem que... tá bom do jeito que está.

segunda-feira, outubro 13, 2008

3 direto, sem tirar

A pessoa estuda. Especializa-se. Conhece muuuiiiitooo sobre o que está falando porque é absolutamente apaixonada pelo assunto. E tem que participar deste diálogo surreal:

- Já tenho tudo planejado: um curso de Constitucional em 25 videoaulas.

- Mas... Constitucional completo, professor? Só 25 videoaulas?

- Sim, com 3 horas cada aula.


Não, professor! Não é assim que a banda toca, não é assim que o papagaio assovia. O buraco é mais embaixo, três graus à direita de quem entra.

Primeiro: o senhor não vai aguentar ficar TRÊS horas em pé no estúdio gravando uma videoaula. Eu vi no Cold Case trudia que ficar de pé no ado-a-ado provoca fissuras no tornozelo.

Segundo: qual é o serumano que vai aguentar assistir ao senhor falando por TRÊS horas sobre Constitucional? Mesmo com o botão de pause, professor. Não há didática que resista.

Terceiro: não vai rolar. Nem vem.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Então, por que mesmo?

Um dia eu estava conversando com o Ri, comentando sobre blogs em geral. Ele, que também é leitor de alguns blogs, disse que é nítido como algumas pessoas escrevem para mascarar a tristeza, a solidão, a carência extrema. Sim, porque sofrer todo mundo sofre. Mas algumas pessoas querem sofrer em technicolor, com som surround e platéia de Oscar.

Até aí morreu o Neves...

Mas por que é que eu escrevo mesmo? Não sou uma profunda, nem mesmo uma média, conhecedora de livros e filmes. Vou apenas pela minha pequena experiência e pelo meu gosto, que considero razoável (alguém quer discordar? Não?). Tenho meus bons lampejos de inteligência, mas uma pessoa que acompanha os debates do programa da Luciana Gimenez não pode ser levada muito a sério, pode?

Não sei dar dicar de maquiagem, de produtos de beleza. Hoje, mesmo... fui tentar passar corretivo sobre as minhas manchas hormonais e acabei com um rosto bicolor. Já fiz curso de automaquiagem, mas pouco ficou na minha lembrança além do triunvirato "limpe-tonifique-hidrate". Também já fiz curso de filé e de risoto (ou, nas palavras do Ri, paguei para aprender a fritar bife e fazer arroz papa), mas só guardei na lembrança o sabor dos pratos que comi (vcs sacam alma de gorda, né?).

Tenho lá minhas interessantes opiniões sobre a política e a economia nacionais e mundiais, mas prefiro guardá-las para mim. E para o Ri, o que dá no mesmo.

Então, o que é mesmo que as pessoas vão encontrar aqui? Nada demais. Vão encontrar historinhas de uma pessoa comum, que vai ao supermercado comprar toddynho, que se sente forte num minuto, para no minuto seguinte cair em frangalhos. Uma pessoa que tem uma família normal, que não vive em um comercial de margarina. E eu espero que nunca, nunca alguém leia o que eu escrevo e pense que a sua vida é uma merda, porque a minha vida, em vários momentos, é uma grande e fedida merda.

Só agora, quase chegando aos 40, estou trabalhando na área que eu sempre quis (EaD). Noventa por cento das minhas amigas ganham mais do que eu. Tenho uma dificuldade inominável em lidar com dinheiro e com as minha taxas de colesterol. Meu pai está dodói. Minha mãe está triste e irritada e deprimida. Minha irmã caçula mora longe e, por conseqüência, dois terços do meu grupo de sobrinhos fafados também.

Mas, quer saber? Entre mortos e feridos salvam-se todos. Tenho uma família muito amada. Tenho o Ri, que é muito mais do que um caminhão de letrinhas. Tenho meus amigos enrolados em plástico-bolha. Tenho a minha Dolly, cachorra que se esqueceu de sua condição canina e adotou uma personalidade humana – e das cricri, diga-se de passagem.

Tenho uma marida amada. Muito amada.

E continuo tomando banho. O que significa que não estou deprimida. Porque li em um artigo que o primeiro sinal de depressão é parar de tomar banho.

E é por aí.

quarta-feira, outubro 08, 2008

Just breathe, Fulô!

2 AM and she calls me 'cause I'm still awake,
"Can you help me unravel my latest mistake?, I don't love him.
Winter just wasn't my season".

Yeah we walk through the doors, so accusing their eyes
Like they have any right at all to criticize,
Hypocrites. You're all here for the very same reason

'Cause you can't jump the track, we're like cars on a cable
And life's like an hourglass, glued to the table
No one can find the rewind button, girl.
So cradle your head in your hands
And breathe... just breathe...

In May he turn 21 on the base at Fort Bliss
"Just a day", he sat down to the flask in his fist,
"Ain't been sober, since maybe October of last year."
Here in town you can tell he's been down for a while,
But, my God, it's so beautiful when the boy smiles,
Wanna hold him. Maybe I'll just sing about it.

Cause you can't jump the track, we're like cars on a cable,
And life's like an hourglass, glued to the table.
No one can find the rewind button, boys,
So cradle your head in your hands,
And breathe... just breathe...

There's a light at each end of this tunnel,
You shout 'cause you're just as far in as you'll ever be out
And these mistakes you've made, you'll just make them again
If you only try turning around.

2 AM and I'm still awake, writing a song
If I get it all down on paper, it's no longer inside of me,
Threatening the life it belongs to
And I feel like I'm naked in front of the crowd
Cause these words are my diary, screaming out loud
And I know that you'll use them, however you want to

(Anna Nalik – Breathe)
Ah, vê bem... tem certeza de que quer brigar comigo agora? Esse mundo está tão maluco. Antes, a gente se assombrava e comentava: "Nossa, matou por 10 reais". Hoje, não precisa mais nem disso. A moça na lan, o rapaz na porta da boate, a menina que ia à farmácia.

Eu sei que sou impossível, que vivo escrevendo ficção com a boca (by Homer Simpson), que não sou flor que se cheire, mas vem cá que eu te conto uma piada, daquele meu jeito de não saber contar piada. Você vai rir de tão sem graça.

Mas não briga hoje não. Nem hoje, nem nas próximas 4 décadas. Quando você quiser brincar de roxinho com o meu pescoço, pensa no tanto de amor que a gente cultiva naquela jardineira. E releva. Porque, meu amor, hoje eu vi um bebê que sobreviveu à mãe. Vi a vida escapando por um triz da morte. E não quero mais brigar. Só se for para fazer as pazes. Aí pode.

terça-feira, outubro 07, 2008

Conversinhas ao telefone

Eu – Laila, comprei um monte de coisas rosa para você!

Laila – O quê, Dina?

Eu – Um collant, uma sainha, sapatilhas e uma "meina"-calça.

Laila – Viiiiiixxxxxeeee!

Eu – Lailoca, você vai para a aula de ballet parecendo um picolé da Hello Kitty!

Tá rindo até hoje...

Qualquer dia, essa menina mata o pai dela. Primeiro, ela disse que queria morrer logo, porque não quer ser adulta (under Peter Pan influence). Depois, ela disse que não ia fazer só o que ele queria, porque o que ele queria não era sempre o que ELA queria.

Os primeiros cinco anos estão ótimos. Vamos ver o que os próximos nos reservam.

Tokyo Godfathers


E aí o Ri chegou lá em casa no sábado, com uma capinha de DVD debaixo do braço. Ele disse que eu ia adorar o desenho japonês que tinha ali. Ele se enganou. Eu não gostei. Eu adorei!


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São três sem-teto que, na noite de Natal, encontram um bebê abandonado no meio de um monte de lixo (lixo japonês, for sure, bem sequinho, só de coisas-quase-novas). Os desenhos são maravilhosos, a superposição das camadas atingiu com perfeição o efeito que os autores desejavam. Procure e veja. Vale a pena!


sexta-feira, junho 06, 2008

Cáspita!

Faz uma cara, hein!!!

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Todas as manhãs, eu vou ao supermercado aqui ao lado para comprar meu café da manhã: um pão frânces e um toddynho fit. Só isso. Eu pego os dois itens, pago, ponho na minha bolsa e vou embora. Não, não pego saquinho plástico. Por isso fiquei conhecida como "a menina que não pega saco plástico".

Parece besteira, né? E é besteira mesmo. Mas o fato é que os caixas não me aceitam tal como eu sou. Eles querem me obrigar a pegar o saquinho. É um estresse matinal, porque eu tenho que ser rápida para pegar o dinheiro na bolsa e, num átimo, pegar o saquinho com o pão e o toddynho. Senão eles colocam tudo num saquinho e ficam me olhando com aquele ar de desafio. Alguns, mais sádicos, colocam o pão em um saquinho e o toddynho em outro.

Em um dia em que eu me sentia mais corajosa, tirei os produtos do saquinho e disse: "Não precisa, obrigada!". A mocinha não se entregou: "Ah, mas já amassou o saquinho".

Como assim, Bial??? Amassou o saquinho? Etiqueta de saquinho agora? Chamem a Glorinha Kalil!

Hoje, eles pediram para o caixa sênior me explicar que o dito saquinho é ecologicamente correto, pois é produzido a partir de vidro reciclado. Ok, mas quem disse que eu estava querendo ser (só) ecologicamente correta? Eu não gosto é de guardar aquele monte de saquinho de plástico.

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Eu fico tão feliz quando vejo as pessoas correndo de manhã cedo. Passando com o meu carro, vejo o povo suando, lá pelas 7h, 7h30... com aquela cara de "tô-usando-sapato-apertado-porra", lógico, porque eu nunca vi um ser humano correndo com um sorriso nos lábios (ok, propaganda da margarina não serve de base).

Fico tranquila, porque sei que alguém no mundo está correndo. Daí ninguém precisa perguntar por que eu não corro. Já tem gente demais fazendo isso.

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sexta-feira, agosto 31, 2007

quinta-feira, agosto 30, 2007

Flores, pra mim?

Cada um tem a marida que merece. Ela tem lá a história do arroz, mas eu tinha que tentar algo que pelo menos se igualasse. Quase consegui.

Segunda, dia do meu aniversário. A marida me chama para almoçar. Fomos a um restaurante nordestino ali na 404N, o Fulô do Sertão. Quando eu cheguei, ela já estava lá, linda e sorridente. Abraços, beijos, parabéns. Aí, ela fez um gesto largo com o braço e disse, apontando em direção à mesa:

– Pra você, amada!

Eu olhei para a mesa e vi aquele vasinho com uns talinhos enfiados na terra (nem flor tinha). Sabe aquele que a gente compra por 1,99 nas promoções do Carrefour? Peguei o vasinho e agradeci emocionada.

– Ô, amore, obrigada...

– SUA ANTA! Não é isso, é aquilo ali! Isso aí é do restaurante!

E, repousando na cadeira ao lado, o mais lindo arranjo de rosas bicolores que eu já vi na minha vida.

Participação especial do garçom:

– Mas se ela quiser levar esse também, tudo bem. É aniversário, não é?

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Só para eu não ficar parecendo a única pateta da face da terra:

Gumercindo* passa em frente à minha mesa com uma garrafinha vazia na mão. Aí, eu pergunto:

– Gumercindo, você vai buscar água?

– Sim!

– Traz um copo pra mim?

– Sim!

Dois minutos depois, Gumercindo coloca o copo sobre a minha mesa. Vazio.

*O nome foi trocado para garantir o anonimato do cálega, né, David?